Caminhos do Mediterrâneo IV

Malta
2018-05-20 - 2018-05-24 (Domingo - Quinta-feira)

Incrições dia 14 de Janeiro.

A ter em conta –

As actividades Caminhos do Mediterrâneo IV e Caminhos do Mediterrâneo V foram concebidas para ser realizadas de forma consecutiva, seguindo directamente de Malta para Catânia por via aérea. Ainda assim, é dada aos sócios a

possibilidade de participar apenas numa delas, à sua escolha, existindo desta forma 3 modalidades distintas de inscrição – Malta e

Sicília, só Malta ou só Sicília. Porém chama-se a atenção para o facto de, por motivo de constrangimentos nas ligações aéreas, o programa do primeiro dia desta última modalidade diferir daquele que será levado a cabo pelo grupo que participa nas duas actividades (ver adiante).

Situado na entrada do estreito que separa a Sicília de África e o Mediterrâneo Ocidental do Oriental, o pequeno arquipélago maltês (360km2 mal repartidos pelas ilhas de Malta, Gozo e Comino) encontra-se em pleno centro do Mare Nostrum. É vizinho próximo da Itália (a norte), da Tunísia (a leste) e da Líbia (a sul), estando ainda sensivelmente à mesma distância de Gibraltar que de Beirute. Tal localização privilegiada (entre mundos muito contrastantes em termos geográficos, políticos, religiosos, culturais, etc…), aliada à excelência superlativa dos seus portos, conferiu-lhe desde muito cedo uma enorme importância estratégica. Até 1530 a sua história segue bastante de perto a da Sicília, de cujos senhores foi quase sempre vassala, embora com duas diferenças notórias. Por um lado, pelo seu clima e geologia calcária, estas ilhas não são férteis. Mais de 3100 horas de sol por ano (com estiagem abrasadora), não permitem produzir excedentes alimentares, pelo que a economia sempre esteve mais dependente das actividades militares e marítimas que do sector primário (donde resulta que, por exemplo, os gregos – povo colonizador por excelência - nunca se tivessem interessado muito por Malta). Por outro lado, entre 3600 e 2500AC, aqui floresceu uma enigmática cultura pré-histórica, duma grandiosidade sem qualquer paralelo conhecido. Os espantosos templos megalíticos de Malta, com Ggantija à cabeça, são até ver as mais antigas edificações humanas que chegaram até aos nossos dias (superando largamente outras bem mais mediáticas, como as pirâmides do Egipto ou Stonehenge), e portanto um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo, simbolicamente localizado no coração do Mediterrâneo.

Mas a partir de 1530 Malta ganha rumo próprio. Nessa data Carlos de Habsburgo, na sua qualidade de rei de Aragão, doa o arquipélago à Ordem dos Cavaleiros do Hospital de São João de Jerusalém. A decisão não foi um capricho do maior monarca ocidental desse tempo (igualmente rei de Castela – Carlos I - e imperador germânico – Carlos V - e bastas vezes imaginado como o primeiro rei de Espanha, embora juridicamente o estado espanhol só tenha sido instituído no século XVIII). A Ordem, a primeira linha de combate contra os maometanos no Levante após a dissolução dos Templários, tinha sobrevivido à recente perda da sua velha base de Rodes, e Suleyman tinha acabado de cercar Viena (1529), pondo em alvoroço toda a cristandade. Malta, a chave da entrada no Mediterrâneo Ocidental, estava mais do que nunca na linha da frente, e nada melhor que uma poderosa força militar carente de abrigo para a guarnecer. Embora friamente recebidos pelos locais (que nunca puderam pertencer à ordem…), os cavaleiros prepararam-se para a ameaça e trataram de melhorar a sua escassa competência naval. Sob a liderança de Parisot de la Vallete, a sua improvável resistência ao grande cerco de Malta (1565) conferiu-lhes enorme fama (e proveito), e iniciou uma época dourada de duzentos anos que moldou a actual face do arquipélago. Malta, a par de Lepanto e dos dois cercos de Viena, foi fundamental para parar a expansão otomana na Europa. A rentável actividade corsária permitiria financiar a construção de raiz de uma magnífica cidade (La Valleta) e renovar a antiga capital (Mdina). A ilha tornou-se um expoente incontornável da arquictectura barroca, em boa parte sob a liderança de dois mestres setecentistas portugueses conhecidos pelos seus gostos caros, Manuel Vilhena e Pinto da Fonseca. Napoleão expulsou os cavaleiros das ilhas, abrindo caminho para 150 anos de sombria presença britânica, sem grande história exceptuando no período da II Guerra Mundial, em que a importância estratégica de Malta voltou a dar que falar (embora, por razões incompreensíveis, a ilha nunca tenha sido atacada em força). Após obter, de forma sui generis, a independência estável (algo que a Sicília bem tentou mas nunca conseguiu), Malta apostou forte (e pontualmente em excesso...) no turismo, tirando partido da sua capacidade de ser simultaneamente um destino cultural e um destino balnear (2 milhões de visitantes/ano, para cerca de 450.000 residentes).

Por excelência um produto do Mediterrâneo, esta pequena sociedade multilíngue (Maltês – uma língua de raiz árabe, Inglês e Italiano), revelou uma notável vocação hospitaleira, conseguindo oferecer ao visitante uma atmosfera cosmopolita e relaxada enquanto mantém uma mentalidade marcadamente conservadora.

Concentrando um património fantástico numa área diminuta, Malta orgulha-se da sua capacidade de proporcionar uma breve viagem a uma longa história…

Caraterísticas da actividade – Não. Desta vez não se trata de uma actividade da ERA (European Ramblers Association). Mas não seria possível sem ela, pois foi nas suas iniciativas que o CAAL conheceu e se tornou amigo da Ramblers Association of Malta, que nos vai receber e guiar no seu território, numa lógica de reciprocidade. Será pois uma actividade exclusiva para os sócios do Clube muito embora, tal como estamos habituados, o nosso estatuto também seja de hóspede, confiando a gestão dos detalhes do programa a quem conhece o terreno melhor que ninguém. O seu perfil será marcadamente cultural, com vários percursos pedestres pequenos e sem dificuldade.

Principais pontos de interesse

La Valleta – “That splendid town, quite like a dream”; Walter Scott (1831). A capital de Malta goza de uma localização soberba. Ocupa uma estreita península com cerca de mil metros de longo que define uma das margens daquele que será provavelmente o mais perfeito porto natural de águas profundas do mundo (Grand Harbour). Na margem oposta 3 pequenos promontórios avançam como dedos a querer alcançar as suas altas muralhas, definindo outras tantas enseadas, cada qual albergando a sua velha cidade: Birgu (a Vitoriosa do cerco de 1565), Senglea e Cospicua, hoje interligadas como bairros da vasta conurbação maltesa.

Planeada e erguida em tempo record logo após o grande cerco, La Valleta é um exemplo perfeito de cidade fortificada renascentista. Assumidamente feita por nobres e para nobres, incorpora um conjunto de edifícios grandiosos, regra geral de estilo barroco e em pedra com uma característica tonalidade mel, sendo de destacar os auberges em que se alojavam os cavaleiros, organizados de acordo com a respectiva língua de origem, os quais actualmente acolhem muitas das principais instituições do estado maltês. La Valleta foi desde muito cedo classificada como património da humanidade pela UNESCO (1980).

Igreja de São João – A jóia da coroa de La Valleta é sem dúvida a igreja conventual da ordem. Por detrás de uma banal fachada maneirista o templo esconde uma fabulosa decoração barroca, “the most striking interior ever seen” nas palavras do grande autor romântico escocês. Sem desprezar uma perturbante obra-prima do perturbado Michele Merisi (dito il Caravagio), o elemento mais espantoso da igreja é o seu piso, inteiramente formado pelos túmulos dos cavaleiros de maior estatuto, magnificamente trabalhados em mármore policromado, num conjunto que, salvo melhor opinião, constitui o mais belo pavimento do mundo.


Templos Megalíticos – Os templos pré-históricos de Malta são um mistério. O súbito surgimento de mais de trinta complexos de colossais dimensões - há blocos com 20 toneladas…- num pequeno território incapaz de suportar uma população significativa, continua por explicar (bem como o seu não menos súbito desaparecimento). Para mais porque constituem um caso muito precoce de megalitismo, porque a sua arquictectura simétrica de linhas curvas não tem ligações regionais (anteriores ou posteriores), e a escultura neles presente em nada se assemelha com a das outras civilizações contemporâneas. Ou seja o megalitismo do Neolítico final maltês parece fugir à malha de interacções culturais que caracteriza o Mediterrâneo (e que está bem presente quer no período inicial de ocupação humana do arquipélago quer no período dolménico subsequente).

Alguns admitem a hipótese de se tratar de um caso de endemismo cultural derivado do isolamento, outros consideram que a insularidade maltesa não é sinónimo de isolamento e, pelo contrário, se trata de uma opção deliberada de exprimir uma identidade própria, distinta do exterior. Os principais templos são Ggantija (o nome diz tudo), na ilha de Gozo, o mais antigo (3600AC) e o primeiro a ser classificado como património da humanidade pela UNESCO (logo em 1980), Hagar Qim e Mnajdra, localizados a escassa distância um do outro no sudeste da ilha, e Tarxien, o mais recente e elaborado, hoje cercado pela cidade de Paola. Um caso à parte é o hipogeu de Saflieni, fabulosa construção subterrânea que infelizmente não poderemos visitar (o acesso é fortemente condicionado).

Mdina – Mdina foi a capital histórica de Malta até á chegada da ordem dos antigos cruzados. Com uma localização tipicamente antiga, no centro da ilha e em posição altaneira (tanto quanto a modesta orografia maltesa o permite…), e uma área que não atinge os dez hectares, é um perfeito exemplo de pequena cidade muralhada medieval. Largamente esquecida pelos cavaleiros - que se instalaram em Birgu e mais tarde construíram La Valleta - manteve um carácter maltês de raiz normanda, embora integrando de forma harmoniosa algumas belas adições barrocas - como a catedral ou o palácio do Vilhena - associadas à reconstrução após o grande terramoto de 1693 (do qual muito iremos ouvir falar na actividade da Sicília). Com escasso número de residentes e sem tráfego automóvel, a Cidade Silenciosa tem uma aura de intemporalidade que encanta o visitante. Do lado de fora das muralhas, a moderna Rabat alberga vestígios da cidade romana. Lá terá vivido Paulo de Tarso na sequência do seu famoso naufrágio do ano 60.

Programa indicativo

Dia 20 de Maio, Domingo – Comparência ao princípio da tarde no aeroporto de Lisboa e voo directo com destino a Malta. Transfer para o hotel e alojamento.

Actividades previstas:

- Percurso pedestre no parque natural de Majjistral, na região noroeste da ilha, ao longo de trilhos costeiros e vias rurais desde a aldeia de Manikata até Mellieha, a maior praia de Malta.

- Actividade urbana em Mdina e Rabat. Visita à Rotunda de Mosta, grande igreja circular oitocentista que replica o Panteon de Roma, notavelmente construída de forma autodidata pelos seus paroquianos… Durante a II Guerra Mundial foi palco de um célebre episódio quando uma bomba nazi perfurou a enorme cúpula, estando o templo repleto, mas não detonou (obviamente um acontecimento milagroso para os beatíssimos malteses…).

- Visita aos templos megalíticos de Hagar Qim e Mnajdra. - Percurso pedestre costeiro ao longo das belas falésias de Dingli, a zona mais elevada do país, rumo aos silos cartagineses de Fawwara.

– Actividade urbana em La Valleta e tempo livre para explorar a cidade.

- Gozar em Gozo – mediante uma actividade de um dia (via ferry) nesta ilha charmosa, mais verde e tranquila que Malta. Inclui visita à sua panorâmica cidadela, percurso pedestre da estância balnear de Marsalform até à bonita aldeia de Gharb e a incontornável visita ao sítio arqueológico de Ggantija.

Dia 24 de Maio; Quinta-feira – Tranfer para o aeroporto de Luqa ao final do dia ou a meio da tarde e voo directo para Catânia ou para Lisboa, consoante o caso. Chegada nocturna à Sicília e crepuscular a Lisboa.

Alojamento e Alimentação – Ficaremos alojados em Sliema, na zona mais turística de Malta, em plena selva de betão, num hotel standard bem localizado perto da cosmopolita marginal, com vistas e fácil acesso para La Valleta por ferry ou autocarro. Pequeno-almoço diário no hotel. Estão incluídos dois almoços, um na cooperativa de agricultores de Manikata – baseado na produção local – e outro com o prato nacional de Malta, Spaghetti tal Fenek - ou seja esparguete com carne e molho de coelho. Haverá ainda um almoço tipo picnic. Os jantares serão livres (não incluídos), bem como o almoço do dia dedicado a La Valleta. Na zona do hotel há abundância de restauração para todas as velocidades.

Para saber mais – www.visitmalta.com . Disponibiliza uma excelente brochura sobre o megalitismo de Malta.