REPORTAGEMALPES 96 - MACIÇO DO MONTE BRANCO
Grupo A - Ascensão do Monte Branco
O Clube de Actividades de Ar Livre está de Parabéns!
E o que se seguiu mostrou ser bem mais duro.
Pois no dia seguinte, para forçar a aclimatação, empreendeu-se a ascensão do Monte Branco do Tacul, cujo cume se situa a 4187 m de altitude.
Partindo de Chamonix de teleférico, em direcção à Agulha do Midi uma subida muito rápida dos 1000 para os 3700 m, propícia ao aparecimento de problemas com a altitude- o grupo calçou os seus crampons e, dividido em cordadas de 2 ou 3 elementos, desceu por uma aresta de neve até à Vallée Blanche (alt. 3500 m), que percorreu até à base do seu objectivo.
As cordadas dispersaram-se então, à medida que a subida decorria.
Os últimos 100 metros da ascensão - sendo a parte final a mais difícil, por decorrer num misto de gelo e rocha - apenas foram percorridos por uma delas, que após atingir o cume e gozar por alguns minutos da paisagem, empreendeu a descida.
As restantes foram forçadas a retirar, uma vez que o cume ficou coberto por nuvens e que, terminando os teleféricos pelas 17H00, se arriscavam a não poder regressar a Chamonix antes da manhã seguinte.
A complicar este quadro de insucesso relativo houve que contar com as dificuldades da descida em neve mole onde se revelaram as limitações dos portugueses, pouco habituados a este elemento- resultando tudo num estado de grande fadiga em todos os elementos do grupo.
Não era agradável, nessa noite, a disposição do Grupo A, batido pela montanha, e a duvidar das suas capacidades físicas e técnicas.
A alta montanha tinha revelado pela primeira vez, a muitos dos participantes, o seu lado mais exigente.
Apesar de tudo, o dia seguinte correu bem, tendo-se ficado em Chamonix, onde se dedicaram várias horas à prática da escalada em rocha.
Assim se respondeu a diferentes necessidades:
Lá fomos então, no dia seguinte, em direcção ao refúgio dos Cosmiques, situado na Vallée Blanche.
Após uma breve 1/2 hora de caminho, arrumámos o material e fomos tentar dormir o mais possível, com uma interrupção para o jantar e muitas outras menores para irmos à casa de banho, já que procurávamos todos beber tanta água quanto possível, para facilitar a aclimatação.
01H00 da madrugada do dia 13: alvorada.
Pequeno-almoço, a apreensão nos rostos, por vezes disfarçada com uma piada.
Ao contrário do que contávamos ao sair de Portugal, íamos abordar o Monte Branco pela mais difícil das vias do lado francês, a Via dos Três Montes Brancos: extensa, com algumas dificuldades técnicas, fisicamente exigente.
Apenas superada por algumas das vias de escalada do lado italiano.
E lá fomos, por volta das 02H00.
À luz dos frontais, a vista era magnífica.
O primeiro obstáculo a ultrapassar seria o nosso conhecido Monte Branco do Tacul, onde ascenderíamos a perto de 4100 m.
Mas, desta vez, com a neve bem dura e cada um de nós melhor aclimatado, a dificuldade revelou-se mais fácil de ultrapassar.
Daí, a via desce para a Portela Maldita, a 4035 m, antes de abordar o mais temido: o Monte Maldito.
Há que subir até aos 4345 m, por uma íngreme parede de neve, antes de voltar a descer para a Portela da Brenva (4303 m).
Só então tem início a subida para o Monte Branco.
Subida dolorosa, pois a falta de oxigénio começa a fazer-se sentir, e além disso exis-tem dois ante-cimos, que reservam duas desagradáveis surpresas: o cume fica sempre mais acima.
A ascensão ao Monte Branco foi um êxito!
Neste dia o CAAL realizou uma proeza: dezassete dos seus membros atingiram o cume do Monte Branco, o ponto mais alto dos Alpes e da Europa Ocidental (três deles numa ascensão independente).
Proeza assinalável, tanto mais que, em média, a taxa de sucesso na ascensão não ultrapassa os 60% (e sobretudo pela via normal).
Pelo caminho, apenas um dos nossos companheiros se quedou na Brenva.
No regresso, o grupo dividiu-se: as primeiras cordadas regressaram pela mesma via, enquanto as últimas retiraram pela via normal, pernoitando no refúgio do Goûter e regressando no dia seguinte a Chamonix.
No mesmo dia, duas companheiras, tendo abdicado do Monte Branco, atingiram o cume da Torre Redonda (alt.3737 m), mas com uma apreciável dificuldade técnica.
Na sexta-feira, a encerrar a actividade, uma parte do grupo efectuou um pequeno percurso pedestre, complementado com um pouco de escalada em rocha, num magnífico cenário, em frente ao glaciar de Argentière.
Grupo B - Volta do Monte Branco
Apesar da organização francesa ter alterado o programa inicialmente entregue aos participantes, a espectacularidade do passeio manteve-se, ajudada pela neve que encontrámos nas partes altas do percurso, por estarmos no final da Primavera.
Os vales, os colos, os cumes, os glaciares, acompanharam-nos todos os dias.
Fomos seguramente o primeiro grupo a empreender este ano a Volta ao Monte Branco.
Da fauna e da flora alpinas observámos alguns animais no seu habitat - marmotas, camurças e choucas (espécie de corvos de altitude, que já chegaram mesmo a ser observados no cume do Everest) -só não se tendo avistado qualquer exemplar do célebre dahut - e uma imensidão de flores - rododendros, mirtilos, junquilhos emorangueiros silvestres.
Devido à época do ano foi possível avistar os prados suíços cobertos de feno alto e flores, uma maravilha apenas observável nesta época do ano.
Alguns dias foram duros... também porque o calor se fez sentir.
Mas as experiências de fazer esqui sobre os pés ou sku sobre os vários névés constituíram momentos de grande brincadeira, para o que muito contribuíram os ensinamentos dos guias.
Ficou ainda assim por completar a volta, já que uma parte do troço francês não se realizou (seriam necessários 10 dias de marcha para efectuar a volta completa).
Fica aqui por isso o desafio: A Volta da Região do Monte Branco (diferente da Volta do Monte Branco), toda ela em França, cobre o troço em falta.
Quem a realizar por iniciativa própria poderá depois dar notícias.
Grupo C - Passeios no Maciço do Monte Branco
Talvez estas actividades tenham constituído um incentivo para novas aventuras.
A montanha, bela, perigosa, agreste, viva, é, acima de tudo, insidiosa, na sua capacidade de despertar paixões.
Os Alpes são algo de Amável. Insuspeitadamente...
Francisco, Berta, Luísa e Alexandre