Apontamentos técnicos em benefício dos nossos Sócios!

2010-12-05

Aproveitando a passagem dos 25 Anos do nosso Clube, aqui fica uma série de pequenos apontamentos técnicos em benefício dos nossos Sócios.

Alexandre Velhinho, Presidente do CAAL

 

A MANTA OU COBERTURA DE SOBREVIVÊNCIA

Originalmente desenvolvida para uso dos astronautas,este equipamento, que consiste num simples filme polimérico revestido por uma fina camada de alumínio, possui a espantosa capacidade de não só isolar termicamente como ainda reflectir para o interior o calor libertado pelo corpo humano.

Funciona assim como “pára-quedas térmico”, a utilizar em caso de emergência (isolamento, exposição a ambientes frios, acidentes, ferimentos ou outras lesões), para prevenir a hipotermia e retardar o estado de choque.

Barata (entre 5 e 10 €) , leve (apenas alguns gramas), pouco volumosa, fácil de transportar e de usar, a manta de sobrevivência deve ser, por isso, a companheira inseparável de cada um dos nossos sócios, em dia de actividade do CAAL… e não só.

E mais um detalhe; sendo uma peça tão leve e pequena, mais vale guardá-la connosco, num bolso das calças, do que levá-la na mochila, que pode não estar disponível justamente quando precisamos dela.

 

A ÁGUA 

Mesmo em repouso, à sombra, e sujeito a uma temperatura moderada, o ser humano perde em média 1 litro de água por dia, apenas através da respiração e da urina.

Estes consumos aumentam naturalmente com o esforço físico, devido ao incremento da actividade respiratória, bem como à transpiração, que visa controlar a temperatura do corpo evacuando o calor produzido pelos músculos. De forma aproximada, podemos considerar os valores da seguinte figura:

Por outro lado, a desidratação acarreta consequências por vezes graves. Tendo em conta que um organismo saudável é constituído por cerca de 75% de água, os efeitos de perdas hídricas aparentemente moderadas são os que constam da tabela seguinte:

Devemos por isso beber:

1) Antes do esforço (nos dias e horas que precedem o início da actividade);

2) Durante o esforço (no mínimo 1 litro de água num período de 4 horas de esforço, e a intervalos regulares);

3) Após o esforço (para repor os níveis de hidratação óptimos, e evitar desse modo sintomas como fadiga, dores musculares, tendinites, cãibras).

Por isso, a água é o mais importante dos conteúdos da mochila: temos de transportar comida, agasalhos, impermeável… mas para poupar peso não deve ser nunca a água que devemos sacrificar.

E uma garrafa de água de 25 ou 33 cl é claramente insuficiente para um dia de caminhada.

 

AS BOTAS

Um par de botas é o equipamento mais importante para o pedestrianismo e outras actividades de montanha; infelizmente, é frequente ver, por esses trilhos fora, companheiros com um calçado

menos adequado: sapatos (supostamente) de caminhada, ténis ou até mesmo sandálias.

A escolha de um par de botas é uma questão de conforto – ao fim de algumas horas umas botas bem ajustadas causam menos cansaço muscular, mesmo que ao princípio, pelo seu maior peso e menor arejamento, pareçam menos confortáveis – mas também de segurança – pela maior protecção também pela sua melhor aderência, as botas são comprovadamente o melhor meio de evitar acidentes relacionados com quedas.

Embora exista uma grande variedade de tipos de bota, o mais
adequado para uma marcha de um ou dois dias em terreno pouco técnico e com condições climatéricas variáveis será um modelo de trekking ligeiro, que:

confira um bom suporte ao tornozelo;

permita uma boa aderência ao terreno e uma correcta absorção das irregularidades deste;

seja impermeável (ou pelo menos proteja bem da humidade);

garanta a circulação do ar para uma correcta transpiração do pé;

seja confortável, não criando quaisquer pontos sensíveis;

apresente uma solidez adequada para resistir ao contacto com terrenos mais agrestes e ainda assim durar alguns anos, já que se trata em regra de um investimento considerável.

Quanto aos materiais, as principais possibilidades, no que diz respeito à gáspea, correspondem ao couro – mais resistente, mas a requerer uma manutenção mais cuidadosa – e às combinações de tecidos sintéticos – normalmente algo mais leves.

Internamente, são de recomendar as membranas imper-respiráveis (Gore-Tex® ou outras semelhantes), sabendo no entanto que irão encarecer a bota… e que inevitavelmente perderão eficiência com o passar do tempo.

Importante também é a construção da palmilha, que muitas vezes é substituída com vantagem por uma palmilha amortecedora, adquirida separadamente, a troco de mais alguns euros.

Quanto às solas, até hoje a única solução comprovada passa por uma borracha da marca Vibram®, com a sua combinação incomparável de aderência e resistência ao desgaste.

Ainda no tocante às solas, há uma decisão importante a tomar: solas rígidas ou flexíveis?

Em geral, uma sola rígida é mais segura, em especial em terrenos acidentados, onde os pontos de apoio para a bota tendem a ser algo exíguos; contudo, este tipo de sola exige alguma habituação, e as botas tendem a ser algo mais pesadas.

Uma correcta escolha do tamanho é fundamental - a compra de um par de botas deve ser feita ao fim do dia (quando os pés apresentam algum inchaço), usando meias semelhantes às que se vão usar no terreno, e quando nos colocamos de pé devemos conseguir inserir o dedo indicador entre a bota e o calcanhar. Não esquecer, igualmente, que diferentes fabricantes utilizam formas diferentes, e que um bom ajuste da bota ao pé não passa apenas pelo comprimento.

Já em utilização, não esquecer que, por melhores que sejam as botas, é normalmente necessário passar por um período de adaptação às mesmas; por isso, não é prudente partir para aquela  actividade de uma semana nos Alpes com as botas compradas na véspera.

Por último, é sempre bom lembrar que o aperto dado aos cordões das botas deve ser mais folgado durante a subida (para que o tornozelo dobre com maior facilidade) e mais justo durante a descida (para que os dedos não batam à frente).

 

O QUE LEVAR CONNOSCO NA MOCHILA

Para uma ascensão nos Himalaias ou para uma caminhada de algumas horas num vale florido, integrados num grupo com guia, vemo-nos sempre confrontados com uma necessidade básica: a de transportar connosco todo um conjunto de objectos que poderão (ou não) vir a ser úteis durante a actividade.

Evidentemente, não há uma lista de equipamento única, que sirva para toda a gente ou para todas as situações.

O que devemos transportar é ditado pelo tipo de actividade que vamos praticar, bem como pela nossa própria capacidade de resolução das situações críticas;

se, por um lado, alguém com um sentido agudo de fieldcraft (a capacidade de se movimentar e resolver situações críticas longe de lugares civilizados) necessitará de menos equipamento do que quem não possui essas capacidades, também é verdade que não valerá nunca a pena transportar uma peça de equipamento, por mais milagrosa que a publicidade a tenha feito parecer, se não a soubermos utilizar perfeitamente.

Trata-se por isso de estabelecer um compromisso entre três objectivos mutuamente contraditórios:

Levar TUDO o que seja INDISPENSÁVEL;

Não levar NADA que seja INÚTIL;

Transportar uma mochila LIGEIRA.

Contudo, para uma caminhada de um ou dois dias com o CAAL, podemos repartir o equipamento em 6 categorias, o que nos facilitará o estabelecimento de uma lista adequada; são elas:

A – Progressão;

B – Protecção;

C – Orientação;

D – Logística;

E – Conforto;

F – Segurança.

Na figura, os elementos seguidos da indicação (O) são opcionais.

Evidentemente, agora vai ser preciso encontrar uma boa mochila para transportar tudo isto…

 A MOCHILA

A constituição da mochila envolve três aspectos: o volume, resultante das dimensões do saco e de eventuais bolsos exteriores, que determina a sua facilidade de arrumação e versatilidade; o sistema de apoio, constituído pelo conjunto das costas, alças e cinto, que dita o conforto de utilização; e a sua forma e acessórios, determinantes da utilização que será dada à mochila.O volume, deve rondar os 45 litros, embora seja possível descer até cerca de 30 litros. No entanto os vários fabricantes nem sempre medem a capacidade das suas mochilas de forma comparável, pelo que é conveniente ter bem em conta o que queremos transportar.

Por outro lado, quanto maior o volume da mochila, mais pesada ela tende a ser, além de ser mais difícil resistir à tentação de a encher.

No que se refere ao sistema de apoio, evitemos as mochilas sem armação – simples e leves mas totalmente inadequadas do ponto de vista do conforto – e as mochilas com armação exterior, mais pesadas e pouco estáveis, que podem comprometer o equilíbrio em terrenos mais difíceis.

Vamos cingir-nos aos modelos com armação interna. Esta pode assumir a forma de uma placa de espuma, um sistema simples mas insatisfatório, pois apenas é adequado para o transporte de cargas muito ligeiras, além de poder facilmente deformar-se e assumir “vícios” susceptíveis conduzir a uma utilização.

Pode consistir igualmente numa estrutura metálica deformável à vontade, mas dotada de uma rigidez suficiente para prevenir qualquer deformação indesejável; é o sistema mais equilibrado, pois alia fiabilidade, simplicidade e baixo peso.

Finalmente, pode incluir um sistema de regulação de altura das costas; infelizmente, alguns destes sistemas são complexos e pouco fiáveis, e implicam um acréscimo no peso da mochila.

Outro factor importante, no que se refere às costas, é o sistema de ventilação, que deve ser capaz de dissipar o calor e impedir a acumulação do suor, razões pelas quais os fabricantes incluem normalmente uma rede ou um sistema de canais nas costas.

Do sistema de apoio fazem ainda parte as alças – que devem ser acolchoadas para não magoar os ombros sob a acção da carga, devendo ainda possuir uma forma anatómica, de molde a melhorar o conforto e não restringir a circulação sanguínea – bem como o cinto, que pode ou não ser acolchoado.

O sistema de apoio deve assegurar uma perfeita adaptação das costas da mochila à morfologia do utilizador, quer quanto à curvatura, quer no que se refere à altura, devendo o ponto de inserção das alças localizar-se cerca de 5 a 7 cm abaixo dos ombros, enquanto o cinto deve cobrir a crista ilíaca. Neste aspecto, refira-se a existência de modelos “lady”, especialmente adaptados às senhoras.

Relativamente à forma, as mochilas simples, sem bolsos externos, são mais versáteis, pois restringem menos os movimentos em passagens delicadas ou estreitas (terreno acidentado, vegetação densa); em contrapartida, a vantagem dos bolsos externos reside na maior acessibilidade ao conteúdo da mochila, já que os objectos mais pequenos ou mais frequentemente usados podem ser guardados nestes bolsos.

De entre os múltiplos acessórios, os mais úteis são a correia peitoral, para impedir que as alças descaiam; as correias de chamada, no cinto e nas alças, que melhoram a estabilidade da mochila, aproximando o seu volume do corpo do utilizador; as correias de compressão, que visam reduzir o volume da mochila quando carregada, e permitem ainda a fixação de objectos no exterior; e os apoios de mãos, que melhoram a circulação de retorno nos braços.

Também os materiais e acabamentos influenciam a escolha da mochila:

costuras triplas ou termoseladas, fechos de qualidade e bem dimensionados, tecido resistente às agressões mecânicas e à passagem da água, constituem garantias adicionais de durabilidade.

No momento da compra, deve testar-se a mochila completamente carregada (não hesitar em levar para a loja todo o material).

Aliviam-se completamente todas as correias, e ajustam-se então correctamente, segundo a sequência altura das alças > cinto > comprimento das alças > correia peitoral > correias de chamada.

Verifica-se ao espelho a adaptação das costas à nossa morfologia.

Há que garantir uma liberdade de movimentos satisfatória, nomeadamente verificando-se que o cimo da mochila não impede de levantar a cabeça, e se o cinto não restringe a elevação das pernas.