Assis ? Perugia ? Parques naturais dos Apeninos ? Burgos medievais ? Abadias beneditinas ? Trilhos de S. Francisco ? Vinhos de Montefalco...
Para o CAAL, 2010 é o ano da Itália!
Depois da notável adesão dos sócios à actividade alpina que vai decorrer em Agosto nas Dolomites, o Clube propõe agora um programa complementar para o início do mês de Outubro, caracterizado por um grau de dificuldade acessível a todos e uma marcada componente cultural.
Em Agosto as montanhas;
em Outubro o património histórico italiano!
Se no Verão teremos territórios cuja incorporação em Itália é relativamente recente, mantendo uma identidade própria bem marcada e constitucionalmente reconhecida, no Outono apontaremos à Umbria, em plena península, sensivelmente a meia distância entre Roma e Florença.
Embora regra geral algo na penumbra por via de vizinhança tão refulgente, é um destino recheado de atractivos, ou não fosse o coração da Itália.
Sobre a Umbria – Coração da Itália
A Umbria (terra dos Umbri, população que ocupou a área desde os primórdios da idade de Bronze até à expansão romana), é uma das 20 regiões administrativas da Itália, sendo como tal dotada de parlamento (Assemblea) e governo (Giunta) regionais próprios.
Tem uma área de 8.456km² e cerca de 900.000 mil habitantes.
A sua capital é Perugia. Situa-se na Itália central, e é delimitada naturalmente pelos Apeninos (cota máxima 2476m) na fronteira oriental e pela bacia do rio Tibre (cota mínima 96m) no lado oposto, pelo que a topografia é acidentada (apenas 6% de planícies), marcada por colinas e montanhas, embora apresentando em geral formas suaves.
É a única região do país que confina apenas com terras italianas, ou seja é o coração geográfico da Itália.
Para entender as características do seu património construído é necessário recuar aos tempos da reforma gregoriana (1075).
A partir dessa ruptura, infindáveis e intricadas lutas entre partidários do poder temporal do papa (guelfos) e do imperador germânico (gibelinos) marcaram o quotidiano da península, num contexto caracterizado pela autonomia comunal das cidades.
Na Umbria este cenário foi pretexto para cerca de 300 anos de conflitos envolvendo cidade contra cidade, burgo contra burgo ou mesmo vizinho contra vizinho, ao sabor das conveniências pessoais e intrigas do momento.
Paradoxalmente esse clima de instabilidade e violência propiciou o desenvolvimento sócio-económico das comuni, quer pelo surgimento de uma classe mercantil forte ligada à economia da guerra, quer pela necessidade de angariação de aliados sentida por sucessivos papas, anti-papas, imperadores e candidatos ao trono.
As cidades cresceram e acumularam um património arquitectónico civil, militar e religioso notável.
Dada a sua relativa proximidade de Roma foram no entanto as primeiras a cair sob a alçada definitiva do estado papal (séc. XIV).
Tal paz trouxe obscuridade, estagnação e decadência. Deste modo o Renascimento e as maravilhas artísticas das cidades-estado da Toscânia e do norte da península passaram ao lado da Umbria.
Mas em contrapartida muito do património anterior permaneceu intacto, pelo que a região logrou conservar a maior densidade de núcleos medievais bem preservados existente no país.
A Umbria é assim sem dúvida o coração medieval da Itália.
A Umbria é uma região marcadamente rural, com destaque para os cultivos da oliveira, da vinha e do tabaco.
Nas faldas dos Apeninos (a espinha dorsal da península), a altitude e o clima propiciam cenários de uma beleza serena, com uma invulgar paleta de tonalidades de verde.
Os seus parques naturais albergam alguns dos vales melhor preservados de Itália, com abundantes bosques ricos em trufas negras (45% da produção nacional).
Não espanta por isso que os seus slogans promocionais, explorando um famoso verso de Carducci, a proclamem como o coração verde de Itália.
Para além da natureza e do património construído, caracterizar a Umbria obriga também a considerar uma vertente espiritual.
Desde logo os seus Apeninos foram o berço de S. Bento (Norcia, circa 480), figura basilar de toda a baixa idade média europeia, e como tal um território amplamente modelado por inúmeras comunidades beneditinas (obreiras, entre muito mais, de alguns dos trilhos que iremos percorrer).
Podíamos também mencionar o culto exacerbado da mórbida Santa Rita (Spoleto 1381, Cascia 1457), mas é S. Francisco (Assis, 1181-1226) o responsável pela sua transformação num centro religioso de primeira grandeza.
Santo popular por excelência - com uma mitologia recheada de episódios deliciosamente naif - de grande devoção no seio das camadas sociais mais pobres, ele é o santo nacional da Itália, fazendo de Assis o foco de incontáveis peregrinações.
Se Roma é o coração do catolicismo, para o italiano comum o coração espiritual da Itália fica na Umbria, em Assis.
Uma actividade da ERA
Tal como nos casos recentes da Holanda, Boémia e Estónia, esta é uma actividade que vai decorrer no âmbito da ERA, pelo que os participantes podem contar com o conhecido padrão geral que caracteriza as suas iniciativas.
Para quem não saiba, lembramos que a ERA (European Rambler’s Association) é a federação europeia da nossa modalidade, reunindo anualmente em assembleia-geral algures no continente.
Nessas ocasiões o anfitrião organiza sempre um programa aberto a todos os praticantes de turismo pedestre das associações filiadas, à descoberta do melhor que a sua terra tem para mostrar.
Os percursos são por norma suaves e relativamente pequenos, conjugando-se com numerosas visitas de carácter cultural bem como alguma atenção à gastronomia e produtos típicos da região.
Nestas iniciativas o nosso estatuto é de hóspede pelo que a organização do CAAL não domina os detalhes do programa e a sua capacidade de intervenção no terreno é limitada.
Logo, o sucesso da actividade depende em boa parte da hospitalidade encontrada, a qual tanto pode ser magnífica (ex. Holanda) como deixar algo a desejar.
Para 2010 a responsabilidade pela 41ª Assembleia da ERA foi atribuída à FIE - Federazione Italiana di Escursionismo (nos idos de 1995 coube ao CAAL).
O local que esta escolheu foi a pequena cidade de Foligno, bem perto de Assis, que será a nossa base para partir à descoberta da Umbria.
Como sempre, na última noite, todos os forasteiros presentes estão convidados para o jantar e gala de final do evento, em convívio com os delegados oficiais das associações de pedestrianismo de toda a Europa.
Programa indicativo
Sábado, 2 de Outubro – Lisboa - Foligno + Viterbo Comparência (muito) matinal no aeroporto de Lisboa e voo TAP com destino a Roma.
Continuação em autocarro para Foligno (aprox. 235km).
De caminho pararemos na histórica cidade de Viterbo.
Frequente refúgio de papas em tempos de aperto, e por isso com uma história particularmente atribulada, Viterbo alberga um palácio papal, a jóia da coroa do seu património.
Apenas Orvieto (onde também estaremos!) e, por outras razões, Avignon, partilham tal honra.
O centro histórico e as muralhas medievais encontram-se bem preservados.
A catedral conserva uma soberba torre sineira gótica.
Destaque ainda para a notável Fontana Grande, datada de 1206.
Domingo, 3 – Parque Nacional dos Montes Sibillini
Este tramo de cerca de 40km dos Apeninos deve o seu nome a um famoso conto de cavalaria que nele situa a morada da temível sibila Alcyna, a qual, muito apropriadamente, aqui tinha um jardim de delícias.
Já que falamos de Barberino talvez a melhor forma de descrever este parque de 70.000 hectares, seja parafraseá-lo e escrever algo como “Ecco un parco che guarda il mondo dalla parte delle radici!”...
Isto porque o parque alberga uma combinação perfeita de natureza, história e cultura.
E há locais mágicos como o lago de Pilatos (mítica sepultura do polémico procurador), os altiplanos de Castelluccio ou o Monte Vettore (o “Erebia pluto belzebub” das desventuras do cavaleiro andante…).
Há também 1800 espécies de flores e 50 de mamíferos, bem como um dos mais famosos percursos pedestres de grande rota de Itália – o Grande Anello dei Sibillini (9 dias).
Caminhada fácil de cerca de 10km no famoso Piani de Castelluccio.
Visita de Norcia, terra natal de S. Bento, no sopé dos Apeninos.
Este burgo possui um belo núcleo medieval de topografia plana (uma raridade na Umbria).
Destaca-se a igreja de Santa Maria Argentea, com um notável altar do flamengo Duquesnoy e uma Madonna de Pomarancio (pai).
No regresso visita guiada à antiquíssima Spoleto.
Hoje uma pequena cidade, foi no entanto capital de um ducado que cobria quase todo o centro da península (durante a ocupação lombarda - entre a queda do império romano e a invasão carolíngia).
Alberga assim um património riquíssimo, com destaque para um teatro e uma famosa ponte (Ponte Sanguinario…) romana, o Palazzo Comunale, um emblemático aqueduto medieval e uma imponente fortaleza guelfa.
Das suas numerosas igrejas a jóia é São Pedro, cuja primorosa fachada constitui porventura o expoente máximo do românico da Umbria.
Segunda, 4 – Parque Regional do Monte Subasio e Assis
O Monte Subasio é a montanha (1290m) fronteira à cidade de Assis.
Desde cedo polvilhado por abadias e eremitérios beneditinos (foi um seu abade que concedeu ao jovem Francesco Bernardone a irrelevante capela da Porzioncula, a partir da qual etc. …), é hoje território de culto franciscano, albergando múltiplos lugares ligados à vida do santo, com destaque para o famoso Eremo delle Carceri.
Embora possuindo alguns bosques magníficos o parque deve mais ao património espiritual do que ao património natural.
Nele faremos um percurso de 8km, sempre associado à figura de S. Francisco, e que os nossos anfitriões designam por Sentieri dello Spirito.
Visita guiada de Assis, património mundial da humanidade, cidade que, pura e simplesmente, dispensa apresentações.
Uma palavra apenas para o paradigmático restauro da basílica de S. Francisco, arrasada pelo terramoto de 1997, e que reassumiu na plenitude a sua condição de marco fundamental da história da arte.
Visita, com prova de pão e pastelaria, ao centenário moinho (hídrico) Buccilli.
Terça, 5 – Foligno, Bevagna e vinhos de Montefalco
Saída a pé do hotel para actividade urbana em Foligno, incluindo a visita à sua atracção maior, o Palazzo Trinci.
Embora fosse uma importante cidade medieval Foligno, ao contrário das suas vizinhas, perdeu muito do seu carácter, devido a bombardeamentos americanos na II Guerra.
Almoço nas margens do rio Topino.
Visita do burgo medieval de Bevagna.
Continuação até Montefalco, para prova dos célebres Rosso di Montefalco e Sagrantino, membros honorários da elite dos vinhos de toda a Itália (que é como quem diz de todo o mundo…).
Quarta, 6 – Em torno de Foligno
Percursos pedestres em torno das cascatas de Altolina e do eremitério de Santa Maria Giacobbe. Prova de produtos típicos da Umbria na Aula Verde de Altolina.
Visita da abadia beneditina de Sassovivo, com o seu notável claustro românico.
Visita de Trevi, o burgo medieval das 20 igrejas.
A mais notável é a do convento da Madonna delle Lacrime, que alberga frescos de grandes dimensões, incluindo uma adoração dos reis magos de Pietro Vanucci, il Perugino, o maior pintor medieval da Umbria, mestre de Rafael.
Quinta, 7 – Parque Regional do Monte Cucco e Gubbio
Monte Cucco, no nordeste da Umbria, é vulgarmente conhecido como o umbigo dos Apeninos, devido à natureza cársica do seu território.
A paisagem, portanto, pouco tem a ver com a dos montes Sibillini.
É um paraíso para a espeleologia e, em geral, um parque famoso pela qualidade da sua oferta desportiva - ciclismo, parapente, canyoning, ski de fundo, etc. e, claro, pedestrianismo, com destaque para a recente marcação de mais um troço do percurso transeuropeu E1 (Mar do Norte- Mar Mediterrâneo).
Percurso pedestre fácil no vale de Ranco (10km).
Visita ao museu etnográfico rural da Civiltà Contadina no burgo de Fossato di Vico.
Visita da cidade de Gubbio, o ponto mais a norte da actividade.
Cidade rica mas de aparência austera, pela cor escura da sua pedra e estreiteza do traçado medieval, Gubbio possui um teatro romano activo, um colossal Palazzo dei Consoli, uma catedral mais igrejas e palácios para todos os gostos.
O seu palio (Corsa dei Ceri - 15 de Maio) é famoso.
Sexta, 8 – Orvieto e Todi
Iremos até Orvieto, no extremo ocidental da Umbria.
Não bastando o seu riquíssimo património, a cidade possui ainda uma implantação espectacular, no topo de uma crista rochosa vertical e amuralhada.
Percurso pedestre em torno das muralhas.
Visita guiada, com destaque para o palácio papal, o notável poço de S. Patrício e sobretudo para a sua fabulosa catedral bicolor, uma das mais fantásticas de Itália.
Alberga frescos de Fra Angélico e o Juízo Final, a obra-prima de Signorelli.
Prova de vinhos em adega local.
Visita de Todi, alegadamente a cidade mais “amiga do utilizador” do mundo (sic), mas sobretudo conhecida pela sua perfeita Piazza del Popolo, medieval.
Sábado 9 – Perugia e a Via de S. Francesco
De manhã actividade urbana em Perugia, a capital da Umbria. Cidade artística por excelência, caracterizar o seu património é missão enciclopédica.
Bastará dizer que nomes como Perugino, Rafael, Piero della Francesca, Fra Angélico, Duccio ou Gattapone marcam os seus palácios, igrejas e museus; e que por aqui o Renascimento já deixou testemunho.
Uma referência mais para o excepcional património etrusco da cidade, do qual se destaca um raríssimo arco, a que os romanos chamaram de Porta Augusta.
De tarde percurso pedestre entre Assis e Spello ao longo da Via de S. Francesco, uma variante da rota dos romeiros - ou seja do milenar itinerário entre Roma e Cantuária, de longe a principal peregrinação medieval (ao tempo era conhecido por Via Romea ou Via Francigena consoante o sentido escolhido pelo caminheiro).
Na alta idade média, por força da devoção ao santo de Assis, a Via de S. Francesco tornou-se na principal rota de romagem e, ainda hoje, apesar da reforma anglicana, vai tentando resistir à “concorrência” do Camiño de Santiago.
Visita do pequeno burgo de Spello.
Ao serão, jantar e festa de encerramento da assembleia da ERA.
Domingo – Foligno-Lisboa + Cascata delle Marmore
De regresso ao aeroporto de Fiumicino iremos visitar uma das mais espantosas obras hidráulicas dos romanos, a Cascata delle Marmore - a maior cascata artificial do mundo e uma das mais impressionantes quedas de água da Europa!
Construída em 271BC pelo cônsul Dentatus, trata-se de um canal que desvia águas do rio Velino para o rio Nera, de modo a prevenir cheias, drenar terrenos e combater um dos maiores inimigos do império – a malária.
A obra conduz o caudal para um desnível abrupto de 165 metros, e a queda de água resultante parece obra da natureza!
Faremos um pequeno percurso pedestre à descoberta daquilo que a poesia consagrou como “horrified beauty” (pela pena do barão de Byron).
Visitaremos ainda a nascente e templo de Clitunno, deus dos rios, desde a antiguidade um local mítico maior, celebrado pelos romanos pela sua beleza.
Dele já Plínio dizia algo parecido com “os oráculos aqui proferidos atestam de modo eloquente a presença da divindade”…
Chegada a Lisboa prevista para o princípio da noite.
Alojamento – Alojamento em hotel em Foligno (uns 20km a sul de Assis).
A nossa 1ª escolha é o Hotel Itália – www.hotelitaliafoligno.com - em pleno centro pedonal.
Regime de meia pensão.
Preço – 1249 €
O preço inclui –
Transporte aéreo Lisboa-Roma em classe económica em voos TAP;
Taxas de aeroporto e combustível no montante previsto à data da orçamentação da actividade;
Transporte terrestre em autocarro de acordo com o programa;
Alojamento de 8 noites em Foligno, em hotel de 3 estrelas (normas locais), em quarto duplo;
Regime de meia pensão incluindo ¼ de vinho da casa;
Guias, voluntários da FIE durante as actividades;
Guia turístico de língua inglesa ou francesa durante as visitas na Umbria;
Entradas no palácio Trinci, na Cascata delle Marmore e nas nascentes de Clitumno;
1 almoço em Foligno;
Provas gastronómicas de acordo com o programa;
Gala de encerramento;
Seguro de acidente pessoais e assistência em viagem.
O preço não inclui – Qualquer entrada paga para além das 3 incluídas nas visitas e anteriormente referidas; Tudo o que não foi referido anteriormente.
Suplemento para quarto individual = 88€.
Extensões em Roma – Há possibilidade de realizar extensões, por conta própria, em Roma, no início ou no final da actividade.
Consultar o Clube no acto de inscrição.
Plano de Pagamentos –
Prestação inicial de 199€ e seis pagamentos de 175€.
A prestação inicial será paga no acto de inscrição, vencendo as seguintes no final de cada um dos meses de Abril a Setembro de 2010, mediante cheques pré-datados entregues obrigatoriamente no acto de inscrição.
Inscrições – Na sede do CAAL, no dia 23 de Março, entre as 15 e as 19 horas. Inscrições limitadas.