“Olho a serra.
E diante
desta natureza sem disfarces, aberta para todos os horizontes, sinto como que
uma centrifugação do espírito. Ando, e parece que voo; tento localizar-me, e
perco-me na indeterminação. Uma espécie de nomadismo da alma descentra-me e
liberta-me das amarras mesquinhas da vida compartimentada. E compreendo de
repente a força universal que impregna os gestos e as palavras destes barrosões,
puros na impureza, que lavam as mãos no sangue de um semelhante e há mil anos
que descobriram o cepticismo moderno, e que por isso entregam desta maneira a
filha ao namorado que lha pede em casamento:
Pastora é,
Gado guardou;
Sebes saltou:
Se nalguma se picou,
Tal como está
Assim vo-la dou…”
Miguel Torga, in "Diário VIII", pág. 41-
Alturas do Barroso, 27 de Junho de 1956.
A Serra do Barroso, também chamada de Alturas, faz
parte do sistema montanhoso da Peneda-Gerês e
nela predomina o xisto e o granito, ainda que nas suas encostas cresçam
pastagens que alimentam o bem conhecido gado
barrosão.
Delimitada pelos rios Tâmega
e Cávado, e dividida entre os municípios de Boticas e Montalegre, as
‘terras de Barroso’ formam uma unidade paisagística e natural caracterizada por
uma topografia complicada, com altas montanhas e vastos planaltos, e com
características singulares nos aspectos humano, económico e cultural: isolada
pelas montanhas, barricada atrás de lagos sucessivos, abandonada pelas vias
rápidas, envolta em nevoeiro, chuva e neve, a região transmite através de paisagens insólitas, fragas e florestas
misteriosas, uma força tremenda, e transforma-se ao sabor das estações.
Aqui
os uivos do lobo não são um mito e as bruxas ainda se juntam em encruzilhadas. Não é terra para homens, mas também lá
existem. As aldeias mantêm ainda um modo
de vida tradicional, e alguma da sua arquitectura típica, visível nas casas de granito cobertas com telhados de
colmo, e nas ruas lajeadas.
Calçadas, com trilhos de floresta rodeados de carvalhos, castanheiros e
vidoeiros, ligam as aldeias e correm ao lado de muros rústicos que separam
terrenos, socalcos agrícolas, espigueiros e moinhos de água embutidos na
paisagem montanhosa. Esta vai variando: nos cotos pedregosos predomina a
vegetação rasteira, mais abaixo abundam os lameiros e bosques de abetos, e por fim temos o azul profundo das albufeiras do Rabagão e de Pisões. E as vistas, do couto da Armada (1279m
altura) ou dos ‘Cornos das Alturas’ a panorâmica é fenomenal! Da Cabreira ao
Alvão, do Gerês ao Larouco, o monte Farinha e a Sª da Graça, o Marão, a serra
do Leiranco, e a albufeira dos Pisões, lá no fundo, uma delícia!
Por isso não se percebe o
esquecimento a que esta serra é votada pela maioria dos ‘caminheiros’.
Características dos
percursos:
Sábado 4 - Dia
Domingo 5 - Dia
Recomendações: Botas, água e farnel para
os 2 dias.
Cartografia: Folha 45 da Carta Militar
de Portugal, na escala 1/25000 do IGE.
Alojamento: No Pavilhão Multi-Usos de Montalegre, sendo necessário levar
frontal, toalha, saco-cama e colchonete. Como alternativa, e por conta própria,
sugere-se hotelaria local perto do pavilhão: Estalagem 276510220, Casa Zé Maria 276512457, Casa do Castelo
276511237, Albergaria Pedreira 935125010, Hospedaria Fidalgo 276512462.
Partida: Sábado
dia 4, às
6h15 de Algés e às 6h30 de Sete Rios.
Participação em viatura própria:
Local de encontro no dia 4, às 12h30. em Alturas do Barroso. Após passar
a barragem de Pisões, fazer a nacional 520 até ao cruzamento de estradas à
entrada da aldeia.
O preço inclui o transporte, o seguro,
informação e mapas, a dormida no pavilhão em Montalegre, bem como a prova de
fumeiro barrosão em Alturas.