Sarilhos Pequenos

Relembrando antigas fainas do Tejo
2024-10-05 (Sábado)


O rio
Segundo Sílio Itálico, senador e poeta romano, Tago, como era designado o Tejo, seria o nome de um rei Ibero que foi cruelmente assassinado por Asdrúbal (general cartaginês que travou diversas batalhas na Hispânia).
Quando da conquista de Lisboa, o cruzado Osberno, que relatou a reconquista desta cidade, comentou: “É este um rio que desce da região de Toledo, e em cujas margens se encontra ouro”.
Segundo a lenda, D. Afonso Henriques pagou a tença ao papa com o ouro retirado do rio Tejo, D.Dinis mandou fazer o seu ceptro com o ouro das areias do Tejo e Dom João III mandou igualmente fazer outro ceptro com este ouro.
O ouro há muito tempo que desapareceu, por isso a nossa atividade vai decorrer na zona do chamado ‘Mar da Palha’. Esta região do estuário do Tejo foi assim denominada porque era aqui que era carregada palha nos vapores alemães que depois a transportavam para as Caraíbas onde, de acordo com relatos da época, servia para acondicionar bananas. O transbordo tinha de ser feito fora do porto de Lisboa porque a palha era muito inflamável.
A praia fluvial do Rosário
O seu areal tem a extensão de 1km e é aqui que, em agosto, é feita uma largada de touros quando se realizam as festas de Sarilhos Pequenos.
Começaremos por ir até ao Largo do Coreto, inaugurado em 11 de janeiro de 1975, ano em que foi fundada a Banda Musical do Rosário, e que fica bem perto da Capela de Nossa Senhora do Rosário, mandada edificar em 1532 por Cosme Macedo, fidalgo da Casa Real, para ali ser sepultado.
Do miradouro fronteiriço podemos avistar, se o tempo o permitir, Lisboa, Almada e Montijo.
Descemos depois até à praia por onde seguiremos e onde poderemos ver ruínas de fornos de cal.
Em tempos esta zona foi rica em ostras, era mesmo o maior banco de ostras da Europa, sendo, por isso, uma das maiores fontes de rendimento dos seus habitantes. As ostras eram na sua maior parte exportadas para França. Nos finais dos anos 60 tudo isso mudou, face ao grande aumento da poluição.
No entanto, já nos anos 50, primeiro face às descargas dos esgotos domésticos e depois como consequência das indústrias que foram sendo implantadas nesta zona, existia o problema de as ostras ficarem contaminadas.
Por isso foi aqui construído, em 1954, um Posto de Depuração de Ostras e passou a ser obrigatório, por lei, que as ostras só podiam ser vendidas depois de serem descontaminadas. 
Em 1970 a produção de ostras decaiu tanto que o posto apenas pôde prosseguir a sua atividade recebendo ostras do Sado e do Algarve mas, mesmo assim, em 1976 foi encerrado.
Em 2008 foi vendido e as suas instalações recuperadas, sendo agora um espaço para eventos.
Depois de passarmos o local do Posto de Depuração de Ostras, vamos sair da praia e ver outra das atividades desta região - a agricultura.
É aqui que vamos passar pelas ruínas da Quinta do Esteiro Furado ou dos Ingleses. Tem 150 hectares e nasceu da união de 2 outras quintas.
Tinha um palacete, uma capela, campos de lavoura e respetivos edifícios de apoio, casas para os trabalhadores, lagares, um grande depósito de água, que também abastecia os barcos ancorados no Tejo, o ‘Froje’ - moinho de maré já desaparecido, cinco salinas (já desativadas), um cais e um esteiro que está assoreado.
Tirando os campos de lavoura tudo o mais está em ruínas e vandalizado. Foi propriedade da coroa e de diversas ordens religiosas até à extinção destas em 1834. Em 1863 Domingos Garcia vendeu a quinta a uns ingleses, daí o seu 2º nome. Passou pela mão de vários proprietários, no início dos anos 70 ainda estava habitada e, atualmente será propriedade de Xavier de Lima.
Mais à frente vamos chegar a Sarilhos Pequenos.
 
Até ao final dos anos 70 era terra de pescadores e salineiros. O nome de Sarilhos vem de um instrumento utilizado na extração do sal - peça em madeira que servia para forçar uma nora a abrir a porta por onde, lentamente, entrava a água do rio.
Como a dimensão dos sarilhos utilizados nesta povoação era menor que a dos usados numa povoação vizinha, que também se dedicava à extração do sal, estas passaram a ser conhecidas como Sarilhos Pequenos e Sarilhos Grandes.
Atravessada a povoação, continuamos depois por terrenos agrícolas até chegarmos, de novo, à costa e à Zona Ribeirinha do Concelho da Moita, classificada como Reserva Ecológica Nacional.
Durante 600 anos existiam aqui 1950 salinas, mais de metade das existentes no salgado do Tejo e, já no séc. XIV, havia registo do pagamento da dízima do sal.
Os marnotos - nome dado aos trabalhadores das salinas no séc. XVII - tinham de limpar a salina nos meses de março e abril, proceder à secagem dos tanques em maio e junho e tratar da cristalização do sal de julho a setembro, após o que os tanques eram submersos até à época seguinte.
Nesta nossa atividade passaremos pela única salina existente, que não é usada para comércio, mas para mostrar uma atividade que foi das mais importantes para as pessoas que aqui residiram.
Aproveitamos também para ver a avifauna do local, bem como um pequeno bairro de pescadores e os seus barcos, após o que chegaremos, de novo, à praia do Rosário.
Atividade circular com cerca de 15km, praticamente plana e sem grande dificuldade. Há possibilidade de neutralização em Sarilhos Pequenos chamando-se um táxi, a expensas dos interessados.
Ponto de encontro: Às 10h00 no parque de estacionamento da Praia do Rosário de Sarilhos Pequenos.
O preço (18,5€) inclui o reconhecimento da atividade e o seguro.
Imprescindível a inscrição prévia no Clube.